segunda-feira, 27 de novembro de 2023
Semana 0
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
Pandemia
Há algum tempo, sentia muita raiva dos tempos de pandemia. Ficaram muitas cicatrizes, especialmente sobre a dificuldade de gestar e de aprender a cuidar de um ser humano tão dependente, sem poder contar com rede de apoio, sem ter apoio presencial, sem ter quem acompanhasse o processo.
Foi duro.
Ah, mas teve vídeo chamada... Teve. Teve muita coisa, inclusive as pessoas evitando se aproximar da gente por conta do risco da pandemia e eu, grávida, sendo grupo de risco. Mas também teve raiva de ver as mesmas pessoas viajando e saindo, enquanto repetiam para a gente: fiquem em casa.
Eu não passei o Natal de 2020 com minha mãe, mesmo morando ao seu lado, porque fiquei 3 horas e meia no dia 23/12 no consultório médico esperando para colher um material para um exame. Isso porque eu tinha medo. Minha mãe é grupo de risco, asmática, idosa...
Felizmente, todos sobrevivemos. Mas nem todos.
Explico: Quando uma pessoa deixa de visitar você para preservar você, porque ela está se expondo a muitos riscos, e esses riscos eram decorrentes de trabalho, por exemplo, você entende que é um carinho, uma consideração. Quando uma pessoa deixa de visitar você supostamente para preservar você, mas viaja, sai com familiares de outras pessoas, enquanto estava trabalhando 100% remoto, você entende que não é importante o suficiente para essa pessoa.
Quando um filho não celebra por 2 anos o aniversário da própria mãe com a desculpa de que estamos vivendo uma pandemia, ele diz que a mãe não é tão importante assim, porque ele poderia, sim, ele poderia ter ficado 15 dias em casa quieto, para não botar a mãe em risco. Mas não.
Enfim, essas dores de pandemia foram me quebrando ao longo dos anos. Saber que você é sempre o segundo ou terceiro plano de pessoas importantes vai quebrando a gente aos poucos.
Mas terça-feira minha mãe passou o dia inteiro comigo, por conta do exame do mapa de 24 horas de pressão arterial e, nesse dia, eu me dei conta de uma coisa muito importante: meu filho foi a principal razão de eu não enlouquecer na pandemia.
Gente, eu sei que sou privilegiada de ter um cargo público e ter a geladeira cheia durante toda a pandemia. Cortem isso. Eu reconheço minha sorte. Não estou discutindo isso.
Eu também sei que meu filho deu outra dimensão à pandemia. Apesar do cansaço, ter um ser humaninho em formação, crescendo, conquistando suas vitórias, tudo isso fez com que a pandemia não virasse apenas um foco de política. Hoje eu vejo que muitos só vivem e respiram e conversam sobre isso, sobre Bolsonaro, sobre Lula, sobre, sei lá, o Alexandre de Moraes. Conversam e cancelam uns aos outros como integrantes de fã clube.
Então, perdoem se eu não abro a boca para falar sobre a guerra da Palestina, se eu não falo sobre o cara eleito na Argentina, se eu não me posiciono sobre o que um influencer xpto da vida falou no Insta ou no X (X, gente? Taqueopaliu, pra mim é Twitter e fds)... Na verdade, nem perdoem, porque não há o que se perdoar.
Eu só não quero gastar minha energia com isso, porque a minha meia dúzia de três ou quatro palavras não vai mudar nada. E eu não vou me sentir uma pessoa melhor só porque eu falo que A é legal e B tem cheiro de cocô.
Essa semana eu finalmente entendi que meu filho foi o livramento maior que eu poderia ter. Um significado novo. Qual o mundo que eu quero deixar pra ele? Um mundo em que eu largue o discurso no teclado para estar ao lado dele brincando de carimbo.
É sobre isso.
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
Silêncio
Coisas para incluir na lista de 101/1001
sábado, 18 de novembro de 2023
Efêmero
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
8 anos entre uma vida e outra
Como disse a mim mesma, eu precisava de um local para desabafar.
É engraçado como a vida é cíclica. Estou novamente na fase ostra, com vontade de sumir do mundo. Nesse meio tempo, pessoas incríveis surgiram na minha vida. A maior (ou menor) delas foi meu filho. É, eu sou mãe.
Uma outra Clara surgiu, literalmente, porque eu meio que ocupo quase 2x o meu espaço lateral anterior. Dessa eu não gosto.
Um dia eu talvez fale sobre os outros. Um dia eu talvez fale sobre mim. Eu só queria achar um clubinho do qual eu me sinta parte. Mas faz parte de mim ser e não ser ao mesmo tempo.
Vou tentar falar aqui sobre tudo o que eu penso, cuspindo meus sentimentos, como uma terapia.
Passados tantos anos, ninguém virá aqui mesmo. Nem eu sabia da existência desse blog com 90 posts.