sábado, 18 de maio de 2024

4 estradas

4 estradas saem de Idrahala.
Uma ao norte, outra ao sul, uma ao leste, outra ao oeste.
A ilha octogonal.

90 dias

Dia 21, começa um projeto de 90 dias da Escola de Escritoras.
É um projeto em que, em tese, você conseguiria escrever o seu livro estagnado, se seguir os 90 dias de desafio.
Sou movida a desafios, então penso que pode me fazer bem, desde que eu não me cobre demais.
Estou com uma ideia específica para este projeto. Ao final, espero escrever um livro chamado "90 dias" (criativo? Hahaha).
Você quer acompanhar? Se sim, se você sabe o meu nome que não é Clara, entra em contato comigo, mencionando o post. Se você só me conhece por aqui, comenta com alguma forma de contato.
Em 90 dias, espero encontrar a chave que abre essa prisão. 

Dia -2

Alguns acontecimentos recentes balançaram meus shakras.

Mas, hoje, hoje não quero falar sobre isso.

Hoje, agora, quero falar sobre as rosas. Muito se fala delas, flores perfumadas e complexas, que se protegem com espinhos. A elas, todas, atribuem-se significados: amor, paixão, amizade, luto... E estão sempre presentes nos contos de fadas: a rosa que o comerciante levou para sua filha; a rosa selvagem em que foi disfarçada a Aurora... e tantas outras rosas, discretas ou não, foram retratadas.
Fazem-nos acreditar que devemos ser como as rosas: eternas, misteriosas, elegantes do botão à última pétala caída. E envoltas em espinhos para que nos protejamos do mundo externo, da perversão dos homens... e com eles também nos ferimos, porque quem há de nos proteger de nós mesmas?
Eu, nesse momento, sinto-me como uma rosa aprisionada, que é consolada. Mas tudo o que eu queria era que entendessem que ficar de pé é um ato de rebeldia. Que ser rosa não é o que define. Estou rosa.
Mas, um dia, ah, um dia, torço para me tornar minha verdadeira vocação: um desengonçado e alegre girassol, que pouco dura, mas sabe ser sol quando o dia se nubla.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Dia 4

Hoje está sendo um dia de montanha russa. Existe uma satisfação muito grande porque as coisas estão fluindo.
Existe uma sensação muito forte de que sou o pior tipo de amigo que alguém pode ter.
Não sei o que fazer para consertar as coisas.
Não sei se consigo consertar alguma coisa.
Às vezes eu sinto que só sei destruir os outros.
Eu não sou uma boa amiga. Ou melhor, eu não sei ser a amiga que os outros precisam.

Li umas paradas sodas hoje.

É, acho que equilíbrio é tudo mesmo. Sempre que um lado da vida melhora, outro degrada.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Dia 3

Estamos começando o terceiro dia.
3 dias com frutas.
3 dias de comida de verdade.
Espero conseguir.

Demonstrações de afeto

Cada pessoa tem uma maneira de demonstrar afeto. Algumas são mais físicas, com abraços, beijos e toques. Algumas são com presentes, mimos que traduzem "lembrei de você". Algumas são com palavras, faladas ou escritas. Algumas são com comidas, sobremesas ou principais. Algumas com preocupação. 
E cada pessoa tem uma expectativa de afeto diferente. Normalmente as pessoas físicas querem afetos físicos, e por aí vai.
Hoje me peguei pensando em como essas diferentes maneiras de demonstrar afeto acabam gerando conflitos, e a nossa incapacidade de se comunicar, notadamente nos dias atuais, acaba piorando e se tornando um problema.
Pessoas que não são físicas muitas vezes têm nervoso de serem tocadas. Pessoas que são mais artesanais se sentem desvalorizadas com coisas feitas em massa e sem zelo...
Meu pai, por exemplo, nunca foi uma pessoa de demonstrar afeto fisicamente ou com palavras. Ele demonstrava o afeto dele com cuidados, com mimos, com café de noite, com maçãs e copos de suco de uva.
Um dia eu havia preparado uma mega salada de almoço para mim, e pedi para ele guardar na geladeira do trabalho dele (eu estudava perto do trabalho dele). Ele ficou ocupado e quando era umas 15 ou 16 horas, ele voltou pra sala dele e me encontrou do lado de fora, porque eu havia esquecido a chave dele, e por isso não almocei. Ele abriu a porta, e na frente de outra pessoa me disse: "Você é burra, é?". Naquele dia eu chorei muito e respondi: "Eu cometi um erro, mas você não pode me chamar de burra na frente de alguém que nem conheço". Meu pai estava muito preocupado, e foi o jeito dele demonstrar isso. Hoje eu sei. Mas ele não sabia que eu era chamada de burra na faculdade várias vezes, e que me chamar de burra ali foi a pá de cal no meu emocional que já estava um caco. Ele não sabia porque a minha maneira de demonstrar afeto era resolvendo meus problemas sozinha.
Minha mãe não é uma pessoa física e nem de palavras. Eu acho que nunca ouvi ou vou ouvir um "eu te amo" da minha mãe. Ela, criada em escola de freiras, me dizia "amar, somente a Deus". Para ela, dizer que gosta de alguém já é muito difícil.
Eu sou uma pessoa que já fui mais física. Meus abraços eram constantes e intensos. Mas eram muito abertos, e eu fui me fechando com o tempo, com as feridas, com as decepções. Hoje eu abraço muito pouco. E, se eu abraçar alguém, é porque eu confio muito nessa pessoa. Nem sempre estou bem para abraçar. É muito, muito difícil pra mim. E olha que costumavam dizer que eu tinha um abraço muito bom...
Eu já fui mais física. Quando criança, gostava de beijar o rosto. Até que morei no exterior e acham essa prática tão comum na América Latina como algo grosso ou nojento. Eeeeeww, you're sooo nasty...
Então, somos moldados pelos nossos traumas e feridas.
Eu já fui mais expressiva, já fui muito romântica. Hoje, guardo essa energia quando estou inspirada para escrever contos.
Minha cabeça é aleatória. Minha linha de raciocínio é torta. Minha capacidade de argumentação é tudo, menos direta. É cheia de metáforas, silepses, hipérboles e caos. Ainda assim, como minha memória de elefante é relacional, faz sentido, mas só na minha cabeça. 
E eu convivo principalmente com pessoas literais. Minha mãe é literal. Meu marido é literal. Aparentemente filhote é literal. E pra mim é MUITO, MUITO difícil ser literal.
Então, veja, as minhas principais interações são difíceis, demandam energia e trabalho.
Você que leu até aqui percebe que eu ainda não cheguei ao ponto, né? Eu comecei com uma apresentação do tema, que foi até razoavelmente direta, depois exemplifiquei, depois reexemplifiquei, depois acrescentei um primeiro argumento para construir a primeira discussão.
Contexto, para mim, é muito necessário. E eu confesso que não gosto da maneira como proseamos hoje em dia, via mensagem de texto, porque faltam aquelas social cues que só pescamos enquanto observamos o interlocutor. Além disso, as conversas assíncronas são piores, porque elas são em momentos distintos.
Mas, voltando, estamos falando sobre afeto.
Meu pai nunca esqueceu uma data especial. Na véspera do aniversário de noivado, de casamento, do dia dos namorados ou do aniversário de minha mãe, ele olhava para mim e falava "Amanhã é dia de apanhar na bunda!", se ele esquecesse. Ele nunca esqueceu. Ele sempre comprou um buquê de rosas vermelhas. No último dia dos namorados, ele não conseguiu um buquê, então comprou 12 rosas individuais. Um rim. Ele não se importava. No último aniversário da minha mãe, eu impedi que ele comprasse, porque queria comprar uma rosa para cada ano de vida. Eu impedi que ele desse o último presente para ela, e isso me consomw às vezes.
Quando ele faleceu, eu prometi que manteria as flores. Tirando o período da pandemia, eu nunca deixei passar em branco, ainda que só me dê conta da data às 19 horas.
Meu pai me ensinou a demonstrar o afeto mostrando que se lembrou da gente.
Mas com facebook e afins, a gente foi se acostumando a não lembrar naturalmente dos dias. Eu perdi o hábito de mandar parabéns, mas me esforço. 
Minha mãe, por outro lado, demonstra afeto com comida. Ela faz o prato que a gente mais gosta, ou me liga quando fez algo que ela sabe que eu gosto.
Eu aprendi com ela a fazer um bolo de lembrança, um brigadeiro de panela quando as coisas estão ruins.
Mas como eu demonstro afeto?
Parei para pensar em como Eu, não Clara, demonstro afeto.
E me dei conta hoje que eu demonstro afeto resolvendo problemas. A minha vida pessoal e a profissional me levaram a um posicionamento muito prático (e não natural) da vida. Eu penso. E eu penso tanto que meu cérebro ta exausto. A carga mental de quem toma a frente de quase tudo é esgotante e invisível. Então, se na minha vida alguém pudesse me dar um presente, eu realmente queria que fosse uma solução. 
Por isso, minha maneira de demonstrar afeto é ouvir e tentar achar algo que possa fazer para diminuir a angústia. Então, eu vou achar aquela revista publicada em 1980 no Mercado Livre. Eu vou achar a peça de reposição do seu aparelho. Eu vou ajudar a contestar uma conta que veio errada. Eu vou passar os dados de contato do órgão público que é responsável para resolver algum dos seus problemas.
Essa é minha maneira de demonstração de afeto.
Então, quando filhote batia a cabeça na lateral da cama, eu construí uma barreira física de costura, por exemplo.
Eu vou demonstrar meu afeto fazendo uma festa surpresa para você, mas eu talvez não consiga ficar na sua festa, porque interagir com mais de 3 pessoas já me esgota.
Só que as pessoas têm expectativas diferentes. Você quer consolo, eu ofereço trabalho. Eu quero silêncio, você me oferece abraço. E isso vai gerando pequenos conflitos que se ampliam.
Com meu marido, que é literal e não interpreta linguagem corporal ou dicas sociais, faz anos que combinei uma tática que funciona muito bem entre a gente. Antes de começar a conversa, eu explico o que eu quero.
Exemplo: "Sobre aquele assunto, eu sei que não tem muita solução e eu vou ficar chateada, não é culpa sua, você não contribui para isso. Eu só quero organizar as ideias" e a gente conversa.
Com ele, preciso sempre explicar que não estou chateada com ele primeiro (a não ser que esteja, obviamente), porque isso já tira a ansiedade inata de achar que ele contribuiu. E, como eu disse, eu não consigo falar de maneira direta. Eu dou voltas e voltas e voltas até tangenciar a questão. Não é de propósito, é como meu cérebro funciona. Por isso e outras coisas, sexta-feira finalmente é minha consulta com a psiquiatra.
Hoje conversando com um dos meus melhores amigos, propus o mesmo mecanismo. Antes de começarmos qualquer conversa séria, explicar o que quer e o que não quer.
Justamente porque que não sou uma pessoa física. E eu sou uma pessoa que se frustra muito com impotência. Ouvir um relato de uma pessoa importante e não poder fazer nada pela pessoa me consome. Bate muito mal. Impotência é a principal causa de frustração pra mim. E eu reajo à frustração com violência. Não é saudável, eu NÃO sei agir de outra forma. Eu vou te chamar de burro porque você esqueceu a chave porque eu estou preocupada porque você não almoçou.
Estou fazendo terapia. Nem sempre acho que me ajuda. Mas quando eu me vejo diante dessas situações, algumas coisas estão ficando menos nebulosas para mim.
Então, veja bem, eu não vou prometer que não vou magoar você ou que não irei ser ríspida. Eu não sei, neste momento, agir diferente. Mas estou aberta a tentar aprender a lidar de forma diferente.
Eu nunca vou prometer algo que eu não vá me ferrar para cumprir (exceto quando prometi ao meu pai, no leito do hospital, que eu usaria chinelo em casa. Eu não consigo). Então quando eu prometo algo, é sempre como um fardo.
Quando eu marco algo, a ansiedade me atrapalha demais, as expectativas são altas e eu me frustro. E a minha frustração é ruim.
Eu não vou prometer melhorar, mas eu vou fazer o possível. Eu VOU errar. Eu vou pisar na bola, mas eu quero que você entenda que isso diz mais sobre mim do que sobre você. Não é pessoal. Eu não quero magoar e o problema não é você. Mas eu sou imatura. Estou trabalhando isso, mas não posso prometer que não irei repetir.
E também estou tentando me concientizar de que a rejeição fala muito mais sobre mim do que dos outros. Se eu me sinto rejeitada, não quer dizer que efetivamente fui, mas eu internalizei aquilo como uma rejeição. E quem tem o poder de mudar isso não é o outro, mas sim eu.
Compliquei né?
Se você precisa de um abraço, me diga bem alto e claro que você precisa de um abraço. Entenda que eu não vou fazer isso naturalmente, porque não é assim que eu reajo. Mas, se isso não for me agredir (porque há dias em que agir fisicamente, pra mim, é quase como um agressão), eu vou te dar o abraço. Mas seja claro.
Se você quer silêncio ou um boost de autoestima, me diga, porque eu não tenho filtro naturalmente.
Penso que, se cada um de nós for capaz de identificar o protocolo antes de começar a interação, a tendência é que o conflito e as violações sejam mínimos. Pense que, quando um computador manda uma mensagem para outro, a primeira parte da mensagem sempre indica o tipo de mensagem, para quem se destina, de onde partiu, e só então começam os comandos, por assim dizer.
E eu já nem lembro mais qual era o tópico central daqui.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Dia 2

Hoje é o dia 2 da nova fase. Consegui dormir feito uma pedra. Acho que ainda rola uma preguicinha agora, para terminar de energizar o corpo.
Estou bem.
Minha cabeça está em paz.
Ontem recebi um presente que quero guardar. Fazia muito tempo que não me sentia tão acolhida.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

86

Hoje é o início do fim.
86.
Repito.
Hoje é o primeiro dia da nova fase da vida.

Vamos sair do mundo 5-1 e entrar no 5-2.

4% de bateria

Descobri que meu carregador estragou. Não sei se compro outro. O certo seria comprar, mas não sei.
Sigo insolvente, mas vejo em julho um luz no final do túnel. É quando eu termino de pagar todas as parcelas remanescentes do cartão. Vocês sabem que eu sou pródiga e tenho problemas de comprar impulsivamente tudo. Estou tentando melhorar meus problemas de compulsão tentando descobrir os gatilhos que me levam à compulsão. Insônia de madrugada é um gatilho de compulsão sinistro, por exemplo.
Faz algum tempo que venho tentando melhorar meus processos. Tentando ainda refletir sobre a conversa de controle na sexta-feira, meu lado racional entende muito bem que não existe controle, que tudo muda. Mas pensar que tudo é caos comigo tem um efeito contrário. Ou eu vou me esgotar pensando em como vencer o caos, ou eu vou abraçar o caos e preferir a comodidade de ficar quieta.
Preciso confessar que eu sou um verdadeiro exemplo prático do princípio da inércia. Eu parada tendo a continuar parada. Eu em movimento tendo a continuar em movimento. Não gosto de ficar parada. Quanto mais parada, mais eu penso. Quanto mais penso, mais fantasmas. Quanto mais fantasmas, mais bloqueios. Quanto mais bloqueios, mais parada. E isso segue num ciclo vicioso.
Eu em movimento sou caos. Eu perco a linha do que é razoável para os outros, porque o movimento em si me traz muita satisfação. O movimento pra mim só é torturante quando envolve tomadas de decisões. 
Eu gosto de sobreviver. Viver, nem tanto. Prefiro reação à ação. Odeio tomar decisões. 
Esta semana, eu tive de pedir ao síndico para ver a questão do vazamento no meu quarto, que já voltou a ficar insalubre, e piora com o fato de ter de ficar muito tempo com a janela fechada.
Eu tinha delegado essa comunicação. E, bem, como boa parte das coisas que tento delegar, elas voltam para mim piores. Então, sim, perdoem a pessoa aqui que discursa tanto sobre delegar as coisas, porque eu entendo todas as problemáticas relacionadas com a delegação. 
Aparentemente, um dos apartamentos de cima não tem nenhum rejunte no banheiro. Estou torcendo muito para que seja só isso.
Amanhã sem falta preciso digitalizar a declaração de comparecimento na consulta do dia 19 e o pedido médico da ressonância da minha mãe porque não dá mais para enrolar. Preciso ver com o plano de saúde a autorização. 
Também estou vendo como vou ajeitar minha vida nos próximos 3 meses para ver como lidar com a inclusão de mais dias presenciais. Então amanhã também preciso ligar para a psicóloga infantil para ver a avaliação e então seguir com as terapias. E fazer tudo isso se acertar.
Também tenho 10 dias para acertar todas as pendências para a correição, mas acho que vai ficar tudo bem. Os piores casos acho que já foram.
Dito e feito isso, seguimos para os próximos planos. Amanhã devo trazer meu teclado da casa da minha mãe. Arranjei hoje o espaço na sala para isso. Quero ver se volto a tocar um pouco todo dia. Música é algo que me preenche. E quero deixar para filhote poder brincar também. 
Quero passar menos tempo online...
Quero construir coisas.
Quero parar de consumir.
Eu consumo muito, mas quero produzir.
Amanhã vai ser outro dia.
Abri seu presente, agradeço por ele, mas não vou ficar com ele.
Nem tudo o que taxam a gente a gente precisa aceitar. Tudo decorre de uma impressão errada que gera uma reação exaltada e depois escalona.
Eu não quero esse presente. Não preciso ficar com ele. Obrigada.



sábado, 4 de maio de 2024

Ficção e realidade

Sou uma pessoa imaginativa.
Tenho dificuldades em separar a ficção da realidade.
Ontem, marido resolveu ver a série de Fallout no Prime.
Conheço o jogo, pelo que o vi jogando no PS. Sei que não me faz bem.
O início do primeiro episódio não me deixou mal, mas a partir dos 20 minutos, comecei a entrar em pânico. 
Não consegui ver, mas também não conseguia me levantar para sair. Era muito ruim.
Hoje fiquei mal o dia inteiro. Somente há pouco entendi o motivo. Tenho muita dificuldade de separar ficção da realidade, então meio que meu cérebro entendeu que aquilo realmente aconteceu. E eu não estou bem. As cenas se repetem na minha cabeça.