quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Pandemia

Há algum tempo, sentia muita raiva dos tempos de pandemia. Ficaram muitas cicatrizes, especialmente sobre a dificuldade de gestar e de aprender a cuidar de um ser humano tão dependente, sem poder contar com rede de apoio, sem ter apoio presencial, sem ter quem acompanhasse o processo.

Foi duro.

Ah, mas teve vídeo chamada... Teve. Teve muita coisa, inclusive as pessoas evitando se aproximar da gente por conta do risco da pandemia e eu, grávida, sendo grupo de risco. Mas também teve raiva de ver as mesmas pessoas viajando e saindo, enquanto repetiam para a gente: fiquem em casa.

Eu não passei o Natal de 2020 com minha mãe, mesmo morando ao seu lado, porque fiquei 3 horas e meia no dia 23/12 no consultório médico esperando para colher um material para um exame. Isso porque eu tinha medo. Minha mãe é grupo de risco, asmática, idosa...

Felizmente, todos sobrevivemos. Mas nem todos.

Explico: Quando uma pessoa deixa de visitar você para preservar você, porque ela está se expondo a muitos riscos, e esses riscos eram decorrentes de trabalho, por exemplo, você entende que é um carinho, uma consideração. Quando uma pessoa deixa de visitar você supostamente para preservar você, mas viaja, sai com familiares de outras pessoas, enquanto estava trabalhando 100% remoto, você entende que não é importante o suficiente para essa pessoa.

Quando um filho não celebra por 2 anos o aniversário da própria mãe com a desculpa de que estamos vivendo uma pandemia, ele diz que a mãe não é tão importante assim, porque ele poderia, sim, ele poderia ter ficado 15 dias em casa quieto, para não botar a mãe em risco. Mas não.

Enfim, essas dores de pandemia foram me quebrando ao longo dos anos. Saber que você é sempre o segundo ou terceiro plano de pessoas importantes vai quebrando a gente aos poucos.

Mas terça-feira minha mãe passou o dia inteiro comigo, por conta do exame do mapa de 24 horas de pressão arterial e, nesse dia, eu me dei conta de uma coisa muito importante: meu filho foi a principal razão de eu não enlouquecer na pandemia.

Gente, eu sei que sou privilegiada de ter um cargo público e ter a geladeira cheia durante toda a pandemia. Cortem isso. Eu reconheço minha sorte. Não estou discutindo isso.

Eu também sei que meu filho deu outra dimensão à pandemia. Apesar do cansaço, ter um ser humaninho em formação, crescendo, conquistando suas vitórias, tudo isso fez com que a pandemia não virasse apenas um foco de política. Hoje eu vejo que muitos só vivem e respiram e conversam sobre isso, sobre Bolsonaro, sobre Lula, sobre, sei lá, o Alexandre de Moraes. Conversam e cancelam uns aos outros como integrantes de fã clube.

Então, perdoem se eu não abro a boca para falar sobre a guerra da Palestina, se eu não falo sobre o cara eleito na Argentina, se eu não me posiciono sobre o que um influencer xpto da vida falou no Insta ou no X (X, gente? Taqueopaliu, pra mim é Twitter e fds)... Na verdade, nem perdoem, porque não há o que se perdoar.

Eu só não quero gastar minha energia com isso, porque a minha meia dúzia de três ou quatro palavras não vai mudar nada. E eu não vou me sentir uma pessoa melhor só porque eu falo que A é legal e B tem cheiro de cocô.

Essa semana eu finalmente entendi que meu filho foi o livramento maior que eu poderia ter. Um significado novo. Qual o mundo que eu quero deixar pra ele? Um mundo em que eu largue o discurso no teclado para estar ao lado dele brincando de carimbo.

É sobre isso.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Silêncio

Hoje (ontem) pratiquei um ato de amor próprio e silenciei um perfil do instagram, porque estou cansada de viver de migalhas e de correr atrás de quem não quer a minha companhia.

Vou passar a fazer isso mais vezes.

Coisas para incluir na lista de 101/1001

O app do celular é muito limitado. Só dá mesmo pra postar. Vou colocar aqui alguns itens pra incluir na minha lista:

1) Comprar um maiô legal
2) Engravidar
3) Fazer uma viagem antes de engravidar ou antes de parir
4) Fazer o open house pós pandemia
5) Fazer uma cesta de café da manhã
6) Arrumar o armário da cozinha
7) Arrumar o escritório
8) Conseguir arrumar party para jogar Mansion of Madness
9) Planejar o cardápio semanal por um mês
10) Cumprir o cardápio semanal planejado por um mês
11) Criar uma agenda de compromissos compartilhada

sábado, 18 de novembro de 2023

Efêmero

Ontem, ou melhor, anteontem, eu reclamei sobre a necessidade de focar um pouco na minha saúde, tanto física quanto mental.
Daí voltei para casa e, já bem tarde, recebi uma mensagem enigmática de uma pessoa querida que foi minha professora. A mensagem dizia que, de todos os amigos dele, se ela pudesse me abraçar, me abraçaria. Eu não entendi. Dele? Abraçar? Então começou uma espiral. Dado nossos amigos em comum, somente um seria tão especial entre nós duas. Palavras de conforto? Não não não, gente, não.
E então entrei no Instagram e vi aquilo que nunca tinha passado na minha cabeça: um dos (senão o maior) amigos meus de graduação (a segunda, a do ENEM de 2015) faleceu.
Do nada, um rapaz novo, gentil, educado, engajado, engraçado, dedicado, amigo, parceiro... do nada ele foi chamado para o plano superior.
Eu não sabia do que se tratava: só tinha visto a nota de pesar do Centro Acadêmico da faculdade. Lendo os comentários, entendi que ele se sentiu mal, foi para o hospital, foi diagnosticado com Guillain-Barre, ficou internado por um mês, e ontem (anteontem) sofreu uma parada cardíaca que não conseguiram reverter.
Um rapaz tão novo, que vivia uma vida agitada dentre mestrado, trabalho e perrengues da vida adulta... e de repente isso.
Então senti raiva. Raiva de mim por não ter sabido que ele estava há um mês internado. Nós nos falávamos diariamente durante a graduação, mas já tinha me acostumado com as conversas assíncronas que são tão típicas das nossas vidas atribuladas. Hoje mando um Oi, dali a 20 dias, ele respondia dizendo que não tinha tido tempo, a gente falava besteiras, zoava a vida, e seguia. Para mim, era normal ficar tanto tempo sem notícias. Uma das minhas melhores amigas, que hoje mora na Noruega, é a prova viva das conversas assíncronas duas vezes por ano...
Mas não. Eu não soube que ele estava mal. Eu não soube que se internou. Só soube quando já foi tarde demais. E isso bateu mal em mim.
Um rapaz novo, recém formado (2021), cheio de vida pela frente, humano, um cronista do cotidiano com escrita sarcástica e fantasiosa ao mesmo tempo, excelente argumentador, com postura madura para as melhores sustentações orais que já vi num aluno de graduação... humilde, divertido, esperando o dia da exaltação, mas no momento focado em superar a humilhação, já que o "não" a gente sempre tinha...
O segundo baque. Seus pais. Como não pensar em seus pais? Qual a dor maior de um pai do que perder um filho? A vida está errada, não faz sentido... não é justo que algum pai tenha de enterrar o filho...
Não pude ir ao velório. O enterro será hoje em Cabo Frio. Só posso rezar para que sua passagem seja em paz e que seus pais possam encontrar algum conforto, se é que isso é possível.
Perdi um amigo.
Não quero descobrir que perdi um amigo por uma nota de pesar no instagram.

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

8 anos entre uma vida e outra

 Como disse a mim mesma, eu precisava de um local para desabafar.

É engraçado como a vida é cíclica. Estou novamente na fase ostra, com vontade de sumir do mundo. Nesse meio tempo, pessoas incríveis surgiram na minha vida. A maior (ou menor) delas foi meu filho. É, eu sou mãe.

Uma outra Clara surgiu, literalmente, porque eu meio que ocupo quase 2x o meu espaço lateral anterior. Dessa eu não gosto.

Um dia eu talvez fale sobre os outros. Um dia eu talvez fale sobre mim. Eu só queria achar um clubinho do qual eu me sinta parte. Mas faz parte de mim ser e não ser ao mesmo tempo.

Vou tentar falar aqui sobre tudo o que eu penso, cuspindo meus sentimentos, como uma terapia.

Passados tantos anos, ninguém virá aqui mesmo. Nem eu sabia da existência desse blog com 90 posts.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Say something

It had been a while, I guess. I've been busy. I've been alive. I had some pretty messy days, but sunshine is bright again.

It has been one year since I started this blog. A lot has happened and even more will follow. I'm pretty thrilled. I'm excited. I'm happy I'm alive and I've gone through this. I'm ready for a new start.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

De volta

Oi!
Você ainda vem aqui?
Você, meu leitor invisível, que me faz companhia na cinza das horas. Você ainda vem aqui?

Eu continuo aqui, só menos falante. Minhas metas continuam andando, só não estou comentando muito. Há muita coisa acontecendo. Estou na fase ostra. Estou aqui encolhidinha na minha concha, dentro do meu mundinho estranho.

Estou esperançosa. Muita água rolou nestes meses, mas aos poucos meu coração tem esperança de novo. Minha paciência está ainda curta, mas está viva.

Vou deixar o sapato na rua quando sair dessa casa passada.

Vou retomar meu segundo/terceiro blog também. Meu blog "profissional". Eu voltei a escrever. Estou criando um blog para chamar de meu, onde não serei Clara, nem Lara, nem Mara. Eu só serei eu e tudo o que isso significa.

Deixo pegadas na areia. Deixo os próximos passos. Deixo, só deixo. Não quero levar bagagem comigo.