sábado, 18 de novembro de 2023

Efêmero

Ontem, ou melhor, anteontem, eu reclamei sobre a necessidade de focar um pouco na minha saúde, tanto física quanto mental.
Daí voltei para casa e, já bem tarde, recebi uma mensagem enigmática de uma pessoa querida que foi minha professora. A mensagem dizia que, de todos os amigos dele, se ela pudesse me abraçar, me abraçaria. Eu não entendi. Dele? Abraçar? Então começou uma espiral. Dado nossos amigos em comum, somente um seria tão especial entre nós duas. Palavras de conforto? Não não não, gente, não.
E então entrei no Instagram e vi aquilo que nunca tinha passado na minha cabeça: um dos (senão o maior) amigos meus de graduação (a segunda, a do ENEM de 2015) faleceu.
Do nada, um rapaz novo, gentil, educado, engajado, engraçado, dedicado, amigo, parceiro... do nada ele foi chamado para o plano superior.
Eu não sabia do que se tratava: só tinha visto a nota de pesar do Centro Acadêmico da faculdade. Lendo os comentários, entendi que ele se sentiu mal, foi para o hospital, foi diagnosticado com Guillain-Barre, ficou internado por um mês, e ontem (anteontem) sofreu uma parada cardíaca que não conseguiram reverter.
Um rapaz tão novo, que vivia uma vida agitada dentre mestrado, trabalho e perrengues da vida adulta... e de repente isso.
Então senti raiva. Raiva de mim por não ter sabido que ele estava há um mês internado. Nós nos falávamos diariamente durante a graduação, mas já tinha me acostumado com as conversas assíncronas que são tão típicas das nossas vidas atribuladas. Hoje mando um Oi, dali a 20 dias, ele respondia dizendo que não tinha tido tempo, a gente falava besteiras, zoava a vida, e seguia. Para mim, era normal ficar tanto tempo sem notícias. Uma das minhas melhores amigas, que hoje mora na Noruega, é a prova viva das conversas assíncronas duas vezes por ano...
Mas não. Eu não soube que ele estava mal. Eu não soube que se internou. Só soube quando já foi tarde demais. E isso bateu mal em mim.
Um rapaz novo, recém formado (2021), cheio de vida pela frente, humano, um cronista do cotidiano com escrita sarcástica e fantasiosa ao mesmo tempo, excelente argumentador, com postura madura para as melhores sustentações orais que já vi num aluno de graduação... humilde, divertido, esperando o dia da exaltação, mas no momento focado em superar a humilhação, já que o "não" a gente sempre tinha...
O segundo baque. Seus pais. Como não pensar em seus pais? Qual a dor maior de um pai do que perder um filho? A vida está errada, não faz sentido... não é justo que algum pai tenha de enterrar o filho...
Não pude ir ao velório. O enterro será hoje em Cabo Frio. Só posso rezar para que sua passagem seja em paz e que seus pais possam encontrar algum conforto, se é que isso é possível.
Perdi um amigo.
Não quero descobrir que perdi um amigo por uma nota de pesar no instagram.

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