quinta-feira, 30 de julho de 2015

Um copo

Eu vejo um copo. Não está meio cheio ou meio vazio. Está sujo, está usado, está largado em cima da mesa.

Eu vejo um copo quebrado, está estilhaçado, está envenenado. Não pode ser regenerado. Está largado no chão, ao lado da mesa.

Eu vejo a bebida jogada, largada ao relento, secando ao vento, em visco grudento. Não pode ser consumida. Está misturada ao tapete, sobre o chão, ao lado da mesa.

Eu não vejo mais nada, porque meus olhos estão sujos, e secos, e cortantes. Há cacos de vidro cortando a retina, e cortando a aorta.

Eu vejo vermelho do sangue escorrendo, em rios de pranto, em sons inauditos. Eu não vejo mais.

Eu ouço o silêncio que me é companheiro nas piores horas do dia.

Eu sinto o carpete ainda úmido do vinho, agora minha seiva que se mistura ao pó. Ao lado o vidro, em mil estilhaços, largado no chão, ao lado da mesa.

Eu não mais sinto. Eu não mais respiro. Eu não mais tenho medo dessa sensação. Eu tenho paz de espírito finalmente.

Eu durmo.

E assim eu repouso o copo intocado em cima da mesa. Hoje não beberei. Sem veneno por hoje.

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